#somostodosprofessores

"Vandalismo" é um termo que faz referência ao povo vândalo, um dos povos bárbaros que invadiram e atacaram o império romano. Na wikipedia, está escrito ainda que o pintor Gustave Courbet definiu como vandalismo a destruição de monumentos que simbolizam "guerra e conquista".


"Vandalismo" é um termo em disputa. Se uma comunidade incendeia um ônibus como uma forma de protesto pela escassez de políticas públicas, muitos gritarão "vandalismo". Afinal, o transporte público é uma conquista civilizatória, a garantia do direito de ir e vir das pessoas que não têm condições de comprar um automóvel. o ônibus é um totem que representa o quanto evoluímos em políticas públicas. Evidente que, nas nossas cidades, o transporte coletivo não é essa conquista descrita, mas um elemento de controle social: a ferramenta que mantém os pobres no lugar de pobres, bem afastados dos ricos.

Na época das andarilhagens de 2013, o termo vandalismo foi utiliizado em larga escala para desqualificar os protestos. Bastava que uma parede fosse pichada, a vidro de um banco trincado que, do sofá, as pessoas gritassem: com vandalismo não se faz democracia. Evidente que ninguém nunca classificou como vandalismo quando uma tubulação rompe e jorra água: a incompetência da SABESP, o descaso pela água que não é abundante é classificada apenas como um problema técnico. A negligência de uns não é considerada, enquanto a revolta de outros é contestada através do uso de um simples termo.

Ainda em 2013, o monumento às bandeiras foi pichado de vermelho em protesto realizado por um grupo de indígenas. De Victor Brecheret, o monumento é passível de várias interpretações. A mais assumida, claro, é aquela que vê no monumento um elogio ao progresso de São Paulo à ousadia de seus fundadores. Alguns, mais bandeirantes ainda, podem interpretar o monumento como uma metáfora de um Estado que, para muitos, carrrega o país. Mas outros entenderam que o monumento representa a opressão dos bandeirantes sobre os indígenas e, para acentuar esse significado, tingiram o monumento de vermelho. e, mais uma vez, lá estavam as pessoas para dizer que a intervenção, a pichação foi também qualificada como vandalismo.

Vandalismo, então, é tudo que destrói nossos símbolos, nossos totens e nossos tabus e digo, no dia 29 de abril de 2015 senti-me vandalizado por Beto Richa e pela sua polícia. a educação formal e pública, mesmo que picotada, triturada e descaracterizada é uma conquista dos nossos tempos. A escola é o ou deveria ser local da tolerância, da troca dos saberes e do reconhecimento do outro. O professor, assim como o aluno e a comunidade, são os elementos de essenciais do processo educativo.

Ao colocar a tropa contra os professores, Beto Richa não excedeu apenas os limites do democrático, mas vandalizou o que construímos de realmente civilizatório. É importante lembrar que os professores não buscavam apenas os benefícios para sua classe em específico, mas sim a manutenção dos direitos adquiridos e a oposição a um governo reconhecidamente corrupto.

Espero que o dia 29 de maio seja um marco, um totem, um monumento. E vandalizar esse monumento é esquecê-lo e não cobrar as consequências de seus autores.


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