contei, inúmeras vezes, sobre o caso de um rapaz trabalhador, dono da mais cristã das humildades. era casado, todavia, com a mais voluptuosa das morenas. era o rapaz sair de casa, que ela se esfregava nas paredes, rolava no chão na vã tentativa de baixar seu calor e manter sua honradez.
mas seu esforço foi inútil, a febre dos seus desejos tomou conta de seu corpo e ela abriu a porta da casa. todo dia era um homem novo: o marceneiro, o carteiro, o motoboy o qualquer outro menino que passasse pela frente. a esfragação cotidiana durava até às 17:00, quando o marido chegava e assumia as funções de queimar a lenha de fogueira da morena.
entrertanto, a faceira tornou-se descuidado e, num belo dia, o marido a pegou com um outro homem no sofá no mais ardente dos chamegos. após várias súplicas e choros da menina, ele humildemente a perdou.
entretanto, o calor da morena não aplacava, seus saraus com os homens da vizinhança aumentava na mesma proporção que seu pudor diminuia e, mais uma vez, o marido a pegou no sofá com outro rapaz. decidido a acabar de fez com sua chifridez, o mariido tomou uma das mais drásticas atitudes de sua vida: livrou-se do sofá.
digo isso em razão da polêmica instaurada pelo ministério público ao determinar que o dicionário houaiss alterasse o significado da palavra cigano, considerado pela própria comunidade como pejorativa. de acordo com o dicionário, uma das conotações é:
5 - (1899) pej aquele que trapaceia; velhaco, burlador. 6 - pej que ou aquele que faz barganha, apegado ao dinheiro, agiota, sovina
claro, nem o mesmo o mais obtuso entre todos ousaria a negar que o termo é preconceito. entretanto, não acredito ser essa a melhor frente de combate. a função de um dicionário é registrar o uso discursivo de um termo e não impor um uso aos falantes. os falantes, em certa medida, não falam porque assim está escrito no dicionário, mas o dicionário assim o registra porque os falantes fizeram uso dessa forma.
não é o dicionário que incintará o racismo contra o cigano. o racismo vem da nossa intolerância congênita em relação ao outro. a eficiência do combate ao racismo está na nossa reeducação e na memória!
sim, devemos preservar em nossa memória que somos racistas e é para isso que servem os memoriais: para que lembremos de didaturas e seus horrores, do holocausto e seus horrores, do onze de setembro e seus horrores. preservar o sentido considerado pejorativo é como instalar dentro de um dicionário um memoorial, para que nos envergonhemos e abandonemos práticas que sempre devemos significá-las como hediondas.
assim, querer mudar o signifcado da palavra é agir como o rapaz do sofá
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