Professor, posso usar o Facebook em sala de aula?



Desde a sua aurora, o uso dos computadores e das redes sociais colocaram os professores diante de paradigmas. Para uns, as redes sociais, a facilidade de acesso às informações promovida pela internet, decretaram a morte do professor, reduzindo seu papel à mero intermediário entre o aluno e o objeto cognicível. Para outros, se não a morte, as redes sociais e a internet foram uma navalhada no rosto do professor, ameaçando-o e desconfigurando-o, pois a concorrência contra a sedução dos estímulos constantes do recursos virtuais contra quem dispõe apenas de giz, lousa e apostila é desleal. Há, ainda, os que previam que os recursos tecnológicos resignificariam as relações humanas e, como uma onda, revolucionariam a sala de aula.



O que é a sala de aula?


A sala de aula é o lugar da dialogia, onde os enunciados e os discursos, como correntes de ar, entram, circulam e saem em buscas de novos espaços, ao mesmo tempo em que deixam espaços livres para novas correntes de ar. Acima de tudo, é um espaço privilegiado para que os alunos tragam seus questionamentos e, instigados pelo professor, compartilhem e resignifiquem esses ensinamentos. Na prática, infelizmente, a sala de aula ainda não é a arena - das ideias, das ideologias e do inacabado - mas sim o lugar do acabado, do imposto e do canônico.

Assumir a sala de aula como lugar de circulação, e não da estagnação dos enunciados, é impedir que o aluno seja assujeitado aos discursos. A questão está em não reduzir o aluno ao objetivo do processo de ensino-aprendizagem, mas fazer dele o sujeito do processo. Reduzir o aluno com fim das dinâmicas em sala de aula não lhe garante ser ouvido ou, melhor ainda, não garante que ele tenha voz. Na verdade, corre-se o risco de silenciá-lo.

O aluno, em uma sala de aula, deve ser sujeito atuante que (re)/(des)/constrói seus enunciados, negociando-os e resignificand-os. Como um lugar em que os saberes mostram-se inacabados, o ambiente escolar é a arena onde os conhecimentos, as ideologias e os enunciados se postam frente a frente. No que tange à tecnologia, seu uso não deve estar voltado para a perpetuação do antigo, do solidificado. Ao contrário, as novas tecnologias em sala de aula devem privilegiar as novas possibilidades de uso dos gênero textuais.

Os Gêneros Textuais em sala de aula: Perspectiva histórica


Como a proposta é a discussão de novas possibilidades de uso dos gêneros textuais a partir daquilo que chamaremos de Tecnologia de Comunicação eInformação (TIC), faremos uma pequena revisão de como o ensino de texto tem sido abordado nas escolas brasileiras.

Apesar de permear toda a prática docente ao longo do século, isso não se deu de forma linear e homogênea. As fases podem ser divididas em três:

  • do início do século XX até os anos 50; 
  • dos anos 60 até os anos 70; 
  • dos anos 80 até hoje. 

Na primeira fase – do início do século XX até os anos 50, a escrita tinha por objetivo principal fornecer ao professor dados a respeito da aprendizagem dos alunos no que tange aos fenômenos ortográficos e aos preceitos morais tidos como irrefutáveis pela escola. Em síntese, configurava-se como uma tarefa que visava à escolha de palavras corretas e nobres. Desse modo, desconsiderava inteiramente o processo de construção de sentidos.

A produção de textos em sala de aula era reduzida a composições livres, tendo como motivação o uso de gravuras, de trechos narrativos e cartas. A partir das antologias de textos adotadas pelos professores, os alunos produziam composições elementares nos primeiros anos, como reprodução e imitação de pequenos trechos e nos últimos anos apresentavam produções “de lavra própria”.

Do início dos anos 60 até o final dos anos 70, a Lei 5692 deDiretrizes e Bases da Educação Nacional de 1971 regulamentou a disciplina Comunicação e Expressão, não mais Língua Portuguesa, com o objetivo de ensinar a produção textual na sala de aula. Assim, ao invés da produção centrar-se na instrução do bem escrever, baseada na modalidade culta da língua, prevaleceu a busca pela eficiência comunicativa que, no entanto, desprezava questões discursivas inerentes à linguagem. É nesse período que se consolidam os chamados “gêneros escolares” dissertação, narração e descrição.

Nos anos 80, Geraldi (1984/1997) critica o trabalho da escola com as redações escolares, que este autor não considera propriamente como “produção de texto”. No primeiro caso, escreve se para a escola e, no segundo, escreve-se na escola. Escrever para a escola é um fim em si mesmo, sem nenhum outro objetivo. Não se escreve como forma de posicionar-se perante determinado assunto ou para se constituir como autor. Não se escreve porque se tem algo a dizer. Escreve-se, porque, no final das contas é o que se deve fazer nas escolas.Não é, no entanto, qualquer escrito que é aceito pela escola. Assim, a atividade de escrever deve revelar que o aluno domina a norma culta da Língua Portuguesa e que compreendeu todas as estratégias de como dizer o que a escola ensinou. Se a escola ensinou ao aluno as estratégias de como dizer o que deve ser dito, por meio de uma dissertação, escrever, para a escola, significa que o aluno deve mostrar que aprendeu e assimilou o como deve ser dito, sujeitando-se ao que deve ser dito. Para Geraldi (1984/1997), portanto, a redação prepara o aluno para escrever depois.

Ainda nos anos 80, salientou-se a importância do cuidado com a organização textual nas aulas de Língua Portuguesa. Destaca-se também, no período, a organização hierárquica do texto - com princípio, meio e fim. Apesar do foco em aspectos formais do texto, o período abriu caminho para uma abordagem sócio-interacionista na produção de textos e, sobretudo, para uma abordagem voltada para trabalho com os gêneros textuais.

No início dos anos 90, o estudo dos gêneros textuais se tornou preocupação central no ensino de Língua Portuguesa. De início, influenciado pela mesma visão estrutural e normativa que regia o ensino de gramática, focava-se a estrutural formal – numa percepção de que os gêneros eram fixos – desconsiderando seus aspectos sócio-interacionais. De meados dos anos 90 até o presente, inspirados pelos trabalhos de Bakhtin (1929/1997), Dolz & Schneuwly (2004) passaram a tratar da questão dos gêneros textuais como diretamente relacionada com suas respectivas práticas sociais.

A produção de texto foi, ao longo da história, concebida de diferentes formas - como composição livre, como redação escolar, como meio de comunicação e como pretexto para o ensino de gramática. A versão atual, segundo os documentos oficiais, privilegia o trabalho com os gêneros textuais, vinculados às práticas sociais, como será visto a seguir. Do ponto de vista pedagógico, entretanto, isso nem sempre é compreendido e simples de se colocar em prática.

Gêneros Textuais em sala de aula: a escolarização


O trabalho com os gêneros textuais, como podemos perceber, tor-se a tábua de salvação do ensino no Brasil. Por isso, é preciso questioná-la um pouco mais. De acordo com Dolz & Schneuwly (1999), autores que se dedicam ao estudo dos gêneros no âmbito escolar, a escola sempre trabalhou com os gêneros, já que no cumprimento da sua missão de ensinar a escrever, ler e falar, as demandas comunicativas, discursivas e sociais específicas se cristalizaram em formas de linguagem específicas, criando o que os autores chamam de “gêneros escolares”. Entretanto, a realidade dos gêneros é mais complexa do que a escola supõe, pois não basta somente fazer circular um gênero. Há um desdobramento, pois o gênero não é somente instrumento de comunicação, mas, ao mesmo tempo, objeto de ensino/aprendizagem (Dolz & Schneuwly).

O aluno, na escola, se encontra diante de uma prática de linguagem deslocada de seu contexto enunciativo original e inserida em um contexto em que ela é um objeto de aprendizagem. Para os autores, tal deslocamento dá um caráter fictício ao gênero. Os autores propõem uma revisão no tratamento dado pelas escolas com relação aos gêneros do discurso, principalmente a conscientização de seu papel central no que se refere à produção textual. O trabalho inicial com os gêneros deve partir de uma decisão didática que tem como princípio norteador o seu domínio pelos alunos. Assim, é necessário um trabalho de transformação, de simplificação ou até mesmo da amplificação de uma de suas dimensões para que ele se torne um objeto de ensino.

Levando em consideração que um gênero, ao ser introduzido em sala de aula, torna-se um gênero escolar, segundo Dolz & Schneuwly, o professor deve considerar o motivo pelo qual um gênero será escolarizado e quais são as expectativas em relação ao trabalho a ser desenvolvido.

TIC: Tecnologia da Informação e Comunicação


Agora, discutiremos um pouco a questão do uso dos gêneros computacionais em sala de aula. É fato que a internet criou uma outra dinâmica na maneira como nos comunicamos. O tempo e o espaço tornaram-se relativo diante das novas possibilidades que as tecnologias propiciaram. A dinâmica associada ao telefone - uma das ferramentas de comunicação mais comuns na época pré-internet - seria inimaginável para os dias de hoje. Não bastava que família dispusesse de um aparelho, o ideal seria que houvesse uma secretária eletrônica para registrar os recados. Uma vez registrado, o diálogo, obrigatoriamente, mudava de estrutura, pois o recado na secretária eletrônica não necessitava de respostas.

Hoje, nas grandes cidades, nos ambientes em que o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação é difundido e acessível, o uso do telefone fixo tornou-se obsoleto em função da agilidade possibilitada pela telefonia móvel. O celular por sua vez, não restringe-se a ser um substituto do telefone fixo, mas, ao contrário, ele amplia suas possibilidades. Caso os interlocutores não possam conversar, há a possibilidade do uso do sistema de mensagens curtas, o popular sms. Recentemente, mostrando a velocidade com que as ferramentas evoluem, temos o WhatsApp, que não restringe-se apenas ao envio de mensagens via internet, mas também há a possibilidade de se enviar mensagens com imagens e vídeos.

O celular resignificou a questão do espaço, pois as possibilidades de trocas são tantas, que a presença física muitas vezes não é requerida. Não há necessidade de ligar para uma pessoa e combinar um encontro, por exemplo, para a troca de documentos: todo esse processo pode ser feito pelo celular. O lado nefasto da tecnologia é a nossa relação com o tempo, pois não há mais a hora ou contexto para se trocar mensagem. Podemos escrever uma mensagem sem nos preocuparmos se a pessoa está jantando ou não, no cinema ou não, disponível ou não.

Recentemente, o WhatsApp incorporou uma ferramenta que permite ao emissor da mensagem verificar se ela foi lida. O aplicativo, assim, desorganiza a relação temporal da mensagem, pois há a obrigatoriedade de que ela seja respondida prontamente para evitar que haja constrangimentos entre os interlocutores. Com essa nova ferramenta, muitas vezes respondemos apenas pela obrigação de responder, apenas para que o emissor da mensagem não tenha a impressão de foi ignorado. O acabamento que damos aos enunciados não é aquele que julgamos mais adequado, justamente porque a emergência das comunicações nos impõe respostas rápidas. As relações temporais que estávamos acostumados são outras agora.

As TIC's permitem-nos a articular de inúmeras estruturas textuais no mesmo texto. Se numa conversa telefônica apenas a oralidade estava em questão, agora temos a oralidade, a escrita e o pictório formando um novo gênero. Possibilitando a incorporação de novos elementos, os esses novos gêneros requerem, dessa forma, estratégicas multissemióticas.

O próprio Website já não é mais o mesmo. O site da Rádio CBN, por exemplo, não é apenas um espaço para divulgação do serviço em si. Na verdade, o site substitui a necessidade do aparelho de rádio, pois conseguimos ouvir a transmissão ao vivo através do do serviço de streaming. Além de ouvir a programação ao vivo, o conteúdo fornecido pela rádio está disponível em links para matérias escritas, vídeos e podcasts, que podem ser compartilhados via rede social. O site é um conjunto de inúmeras possiblidades e recursos textuais envolvendo múltiplos elementos semióticos.

E, claro, para finalizar de maneira simplista a descrição dos TIC's, há as Redes Sociais Virtuais, protagonizadas pelo Facebook. O Facebook há tempos deixou de ser uma variante de yearbook ou uma rede de pessoas conhecidas para tornar-se uma extensão de nossas vidas. É o momento em que o virtual funde-se com o real, resignificando-se. De uma ferramenta para compartilhamento de status, tornou-se um registro do vivido pelo usuário e tornou-se uma extensão daquilo que fazemos no nosso cotidiano.

TIC: Posso usar o Facebook em sala de aula?


Sobre a incorporação dos gêneros virtuais em sala de aula, devemos ter em mente que ela não pode significar a reprodução dos modelos linguísticos e pedagógicos tradicionais, ou seja, o uso dos gêneros não deve ser apenas para encobrir velhas e caducas práticas pedagógicas que não atendem mais as exigências da contemporaneidade.

As práticas a partir das novas tecnologias não devem ser como um verniz modernizante, um raio goumertizador sobre a sala de aula. Ao contrário, incorporar as novas tecnologias significa dar um passo além, propor ao aluno que extrapole os muros da sala aula, que se torne realmente um autor do seus textos, correndo os riscos associados aos seus enunciados.

Educação em cuja prática se perceba uma compreensão correta da tecnologia, a que se recusa a entendê-la como obra diabólica ameaçando sempre os seres humanos ou a que a perfila como constantemente a serviço do seu bem-estar. A compreensão crítica da tecnologia, da qual a educação de que precisamos deve estar infundida, e a que vê nela uma intervenção crescentemente sofistica no mundo a ser necessariamente submetida a crivo político e ético. Quanto maior vem sendo a importância da tecnologia hoje tanto mais se afirma a necessidade de rigorosa vigilância ética sobre ela. De uma ética a serviço das gentes, de sua vocação ontológica, a do ser mais e não de uma ética estreita e malvada, como a do lucro, a do mercado. Por isso mesmo, a formação técnico-científica de que urgentemente precisamos é muito mais do que puro treinamento ou adestramento para o uso de procedimentos tecnológicos. (...). O convívio com as técnicas a que não falte a vigilância ética implica uma reflexão radical, jamais cavilosa, sobre o ser humano, sobre sua presença no mundo e com o mundo.(...) O exercício de pensar o tempo, de pensar a técnica, de pensar o conhecimento enquanto se conhece, de pensar o quê das coisas, o para quê, o contra quem são exigências fundamentais de uma educação democrática à altura dos desafios do nosso tempo (Paulo Freire, Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos, Terra & Paz, 1997/2000/2014)

As TIC's em sala de aula


Talvez um exemplo de atividade possa ser uma situação experimentada por uma turma de Língua Portuguesa na Escola Graduada. No dia 30/09/2014, a polêmica que amanheceu junto com os brasileiros foram as homofóbicas declarações do candidato à presidência da república Levy Fidelix no debate promovido pela Rede Record no dia anterior. Na ocasião, o candidato disse em resposta à candidata Luciana Genro que seu posicionamento sobre os direitos LGBTT poderiam ser resumidos na frase "pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho", afirmou o candidato. "Aparelho excretor não reproduz", continuou.". Compreendendo a sala da aula como o momento para o questionamento do vivido e para o questionamento das intricadas relações exteriores às paredes da sala aula, foi imperativo que a discussão chegasse à sala de aula.

Evidentemente, em uma situação como essa, o questionamento não foi se o candidato tinha razão ou não, se era um ponto vista válido ou não. Um professor não deve ser neutro: é seu dever posicionar-se, orientar os alunos, principalmente diante de posições e situações violentas e racionárias. Deve-se partir do princípio de que o posicionamento de Levy Fidélix era errado e injustificável. Assim, a nossa discussão era: o candidato deveria ou não ser punido pelas declarações homofóbicas. Ele tem a liberdade ou não para o dizer o que quiser, especialmente em uma televisão, que é uma concessão pública.

Nessa atividade, o primeiro passo foi organizar uma roda de conversar, um momento em que as dúvidas sobre o assunto eram questionadas, as opiniões postas na mesa e contra argumentadas. Em seguida, como em qualquer atividade teórica, buscamos uma leitura que pudesse embasar ou até mesmo nos forçar a, novamente, novas reconsiderações. Lemos, assim, um post do blog do Sakamoto. A escolha de um blog foi proposital, para mostrar as novas tecnologias trazem novas possibilidades de acesso à informação.

A partir da leitura proposta pelo professor, os alunos assumiram todas as possibilidades sociais, comunicativas e enunciativas que os novos gêneros textuais através das TIC's permitem. Nas leituras das reportagens tradicionais, o leitor é quase o destino final do texto. Tirando raras situações, não era possível o questionamento, a contraposição ou filiar-se ao autor de maneira efetiva. O blog, no contexto dessas novas possibilidades textuais, midiáticas e enunciativas, permite ao autor notar mais nitidamente através dos comentários e do número de compartilhamento das postagens os movimentos de filiação, contraposição e questionamento.

Ora, assim, não há sentido em trazer um post de um blog para a sala de aula se não exercemos todas as suas possibilidades comunicativas e enunciativas. O trabalho em sala de aula era, então, postar um comentário no referido blog. Em primeiro lugar, houve o trabalho com as características tipológicas: um texto curto, que fizesse referência imediata ao post e dialogasse com os outros comentários. Em seguida, foi mostrado aos alunos a necessidade definição de um nickname. Esse momento foi um momento particularmente interessante, porque os alunos perceberam que a adoção de um nickname só é apenas a identificação do seu autor, mas também ajuda na construção de um imaginário sobre quem seria o tal autor. Por isso, observou-se a vontade do aluno em identificar-se e caso o aluno sentisse-se constrangido, deveria haver um cuidado para que o nickname adotado não invalidasse o texto do aluno.

Depois de problematizada as minúcias das estruturas textuais, foi pedido aos alunos que lessem os outros comentários antes da publicação. A ideia é que os alunos tomassem conhecimento dos aspectos discursivos e pragmáticas da blogesfera, possibilitando-os calcular os riscos e as instabilidades em que esses enunciados estão propensos.

Um aspecto importante a ser destacado é que o professor também publicou seu comentário junto com os alunos. A distância entre professor e aluno foi sensivelmente reduzida, ampliando a percepção dos alunos sobre as sutilezas comunicativas dos novos enunciados possibilitados pelas TIC's. E, depois de todas essas considerações, os alunos finalmente publicaram seus comentários.

Breno Deffanti: Em qualquer aspecto da vida, a nossa atuação gera consequências. O simples ato de estar no mundo, o simples fato de existir já gera consequências e, portanto, responsabilidades. Não podemos, sob hipótese alguma, acreditar que os discursos materializem-se em enunciados apenas e não em associações. Tudo aquilo que falamos entra em uma cadeia de enunciados que modificam o mundo como o percebemos. Além do mais, devemos sempre levar a posição que o candidato ocupa, que gera responsabilidades extras. Um comentário postado em blog requer responsabilidades diferentes daquele dito em um debate em rede nacional. Infelizmente, nossas leis carecem de instrumentos que cobrem das pessoas as responsabilidades sobre seus discursos! (Comentário do Professor)


Aluno: Sim, todas as pessoas têm o direito de expressar suas opiniões, porém deve existir a questão da ética. Ocorre que em muitos casos um sujeito não a leva em consideração, como o Levy Fidelix. Na visão de muitas pessoas ele simplesmente expressou a sua opinião. Porém, para um sujeito expressar sua opinião, não é necessário expressar ódio e agressão. Há limites; não podemos agredir o outro, estaríamos cometendo algo imoral. E sim, foi o que o Fidelix cometeu. Ele expressou um discurso de ódio em uma rede nacional. Alguns vão falar que foi apenas um “discurso” e que não incitará violência. Mas precisamos lembrar que para todas as nossas ações, há consequências. (Comentário do Aluno)

Pedagogicamente falando, os alunos não fizeram uso de um pastiche do gênero alvo. Ao contrário, o uso das TIC's possibilitou aos alunos a apropriação do gênero em sua plenitude. De instrumentalizador de gêneros textuais, o aluno passou para autor. É interessante observar que há atividade em questão não constituiu-se da instrução "escreva um comentário em um blog". Houve uma modalização do ensino, uma sequência didática que possibilitou ao aluno a apropriação por completa do gênero textual.

Sobre a pergunta inicial: "posso usar o facebook em sala de aula?" A reposta é "claro!", ou melhor, "deve!". Mas seu uso deve estar associado à ampliação das possibilidades pedagógicas e não para sua a manutenção. Diante de vários questionamentos sobre o futuro da escola e do professor, o uso das novas tecnologias só terá sentido como um instrumento para a rompimento com as práticas arcaicas e elitizantes. Afinal, novos instrumentos, novas possibilidades, novos sentidos. Parafraseando Gilberto Gil, façamos dos gigabites das home pages, dos web sites uma jangada, um barco que veleje.

Bibliografia


  • BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal - Trad. Paulo Bezerra, São Paulo, Martins Fontes: 1992/2003. 
  • DEFFANTI, Breno Luis. Produção escrita e inclusão escolar : um estudo neurolinguístico -- Campinas, SP : [s.n.], 2011. 
  • _________ Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos, Terra & Paz, 1997/2000/2014 
  • GERALDI, J.W.Portos de Passagem, São Paulo, Martins Fontes: 1997. 
  • MARCUSCHI, B., Escrevendo na escola para a vida, no prelo, 2010 
  • SÃO PAULO. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Língua Portuguesa, São Paulo: 2008. 

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