muito ajuda quem não atrapalha



Temos algumas crenças relacionadas à educação que são difíceis de combater. Provavelmente, vêm de um princípio de que a educação, a capacidade de ler e escrever é um dom para poucos. Ou até melhor: ler e escrever é habilidade para os eleitos, quase como que jogar futebol e ou destacar-se no mundo artístico. Acho que posso elencar alguma dessas crenças:
  • Ser bom aluno significa ter boa memória: O bom aluno é aquele que decora a tabuada do sete e as regras de acentuação. Estou no mestrado na Unicamp, sou um profissional respeitado e tenho uma esposa linda. Quero dizer que não decorar o que deveria ser decorado não fez de mim um aluno ruim, um profissional menos valorizado e uma pessoa infeliz. Aliás, acredito que um bom aluno é aquele que sabe reconhecer bons manuais de matemática e de português, tendo uma visão crítica do que lê. 
  • Ser bom aluno significa ser comportado: A linha que separa o bom aluno do aluno passivo e o mal aluno do aluno que não aceita as imposições do sistema escolar é muito tênue. Há milhares de estudos psicológicos sobre o tema, mostrando que o mal aluno é muitas vezes o que não são adapta à ditadura da rotina escolar 
  • Ser bom aluno significa dominar a língua padrão: Tirando Rui Barbosa, nenhum outro brasileiro nasceu dominando a língua padrão. De certa forma, o português padrão é quase uma abstração, pois sua referência é sempre uma língua que não falamos mais. Assim, a referência do português brasileiro padrão é a língua falada no anos 20, a dos anos 20 a língua de Machado de Assis e por aí vai. O bom aluno, sim, é aquele que sabe utilizar a língua padrão para a sua inclusão nas esferas do poder. 
  • Ser bom aluno significa saber escrever corretamente todas as palavras: Gostaria de discutir um pouco mais esse assunto. 

Escrevo este pequeno post motivado pela final do concurso do Soletrando, do Caldeirão do Huck. O programa, como entretenimento, é aceitável, mas como um incentivo ao estudo da Língua Portuguesa, dispensável.

Vejo e também ouço nos corredores cotidianos pessoas empolgadas com o programa. Sei também que professores de português encontraram no programa o reconhecimento perdido. Acontece que o conhecimento ortográfico de uma palavra é meramente uma demonstração de memória, não mostra nenhum conhecimento da língua. A palavra que determinou o vencedor, por exemplo, se jogada no google só mostra referências ao programa e outras isoladas sobre seu uso. Se a jogarmos no buscador do jornal mais lido do país, a Folha de São Paulo, o resultado é zero. Isso significa que desde que o portal foi lançado, algo em torno de 1994, nenhum jornalista jamais usou esse termo. A relevância discursiva de Iâmbico é zero, ou melhor, era zero, já que nos próximos quinze dias se tornará o léxico da moda.

Um grande incentivo à Língua Portuguesa seria criar um programa chamado Significando, que discutisse o significado dos termos. Por exemplo, o que significa o uso de um termo como ditabranda ou até mesmo ditadura quando nos referimos a um presidente eleito como o Chávez.

Incentivar a educação, a leitura é incentivar a leitura de textos, mesmo os não verbais. Outro bom exercício nas escolas seria tentar entender porque um apresentador que se diz comprometido com questões populares abusa de pessoas pobres em situações vexamosas no seu programa

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