Na frança, muitos foram às ruas, arriscaram-se pela liberdade de expressão e de imprensa e, sinceramente, tenho certeza que muitos no Brasil fariam o mesmo. O que impressiona-me, no entanto, é que ninguém cobra a responsabilidade da imprensa sobre seus enunciados: é como se imprensa fosse aqueles meninos mimados que podem tudo e devem nada.
Hoje, nos tempos de ausência de responsabilidade, a última moda é apagar post, tweet, seja lá o que for. O primeiro que chamou minha atenção foi do Rodrigo Constantino, que apagou um post raivoso com crítcas à jornalista Miriam Leitão. No tal post, Constantino questionava o pedido de desculpas que a jornalista esperava do exército por ter sido torturada durante a ditadura. Segundo ele, o pedido de desculpas seria legítimo desde que ela se desculpasse aos desserviço à nação pela sua atuação militância comunista na juventude. (é como se ele dissesse: você mereceu ser torturada!) orientado pelos editores da Veja, ele decidiu apagar o post.
Houve um outro caso recentemente:
Hidelgar Angel é filha de Zuzu Angel (a Angélica) e, consequentemente, irmã de Stuart Angel Jones. Ela possui um blog sobre tudo e mais um pouco: moda, requinte, bastidores da política e cotidiano. No blog, o último artigo foi especialmente polêmico. alarmada com a onde crescente de violência no Rio de Janeiro, escreveu o seguinte (a reprodução é do 'Diário do Centro do Mundo'):
O caos já se instalou no Rio, o poder público precisa coragem para agir à altura dele
É desnecessário dizer o quanto o posicionamento da jornalista é discriminatório (ela mesma concorda), o quanto ele dialoga com outros textos também preconceituosos. Entretanto, a questão não será essa. gostaria de discutir se essa fórmula mágica de apagar posts. deletar um post significa dizer que ele jamais existiu, libertando o autor da responsabilidade sobre seus enunciados?Certamente por maior que seja nosso efetivo policial, ele jamais será grande o suficiente para reprimir as hordas e hordas de jovens assaltantes e arruaceiros, que geram intranquilidade atacando cariocas e turistas nesses arrastões do verão no Rio de Janeiro.É uma crise grave. O poder público não pode nem deve ser titubeante. Há momentos em que ele precisa ser enérgico e corajoso o suficiente para tomar medidas necessárias que desagradem. A população não pode estar sujeita ao medo, à violência, ao vandalismo desenfreados. Há ações que necessitam ser implementadas. Certamente os especialistas sabem quais são, mas sugerir não ofende.
1 – Em tais dias de grande concentração de pessoas nas ruas e praias, nos fins de semana e feriados do verão, diminuir drasticamente a circulação das linhas de ônibus e de Metro no fluxo Zona Norte – Zona Sul, estimulando o aumento do fluxo Zona Norte – Zona Oeste, para haver uma distribuição mais equilibrada da população das praias. Barra, Recreio, São Conrado têm praias imensas, lindas. Modo de evitar concentrações opressivas.
2 – Caso essa providência não alcance resultado, partir para um plano B radical: cobrar entrada nas praias de Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon. Isso pode soar com estranheza para os cariocas, que sempre tiveram a praia gratuita, mas no exterior é a normalidade. Preços módicos, naturalmente.
As medidas são antipáticas e discriminatórias, concordo. Mas ou é isso ou será o caos. Ou melhor, o caos já é. Daí pra pior.
Um exemplo é quando o sujeito conta uma piada preconceituosa. provavelmente, não foi ele quem criou a piada e o talvez o sujeito, no seu cotidiano, não dialogue com os preconceitos que a piada carrega ou denuncia, no entanto, ao enunciá-la, ele torna-se responsável pelas interpretações que possam surgir, como ser considerado racista pela piada contada.
Entretanto, apagar um post não significa que o enunciado deixou de existir. (Ao contrário!) o enunciado, quando produzido, encaixa-se em uma corrente: é uma resposta aos enunciados anteriormente produzidos e uma motivação para os que serão gerados. por exemplo, o mesmo sujeito que contou uma piada racista no exemplo anterior só a contou porque no momento de sua produção havia enunciados anteriores que autorizavam o ato de contar a piada. A partir do momento em que a piada foi contada, ela abriu caminho para novos enunciados gerados pela piada. no caso dos posts apagados, eles automaticamente geraram comentários, queixas, concordâncias e discordâncias. Ou seja, geraram contra-palavras, não eximindo o autor dos post de suas responsabilidades.
Na verdade, o máximo que os autores conseguiram ao apagar os posts foi dificultar o acesso a les. os significados, a indignação - e o por que não? - as concordâncias, já foram geradas. Em alguns casos, os textos foram circular em outros sites. é preferível, no final das contas, que seus autores entendam que os significados associados aos textos não são eternos, nem imutáveis. Se o texto atingiu um significado que não era o esperado, refaça-o, resignifique-o e, principalmente, que assumam seus significados.
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