De certa forma, não consigo aceitar os conciliadores: aqueles que acham que conseguem integrar ciência, arte e religião. Impossível, os séculos provaram.
Li o artigo "Santa Aliança" publicado no caderno Mais! da Fsp (07-03-2010), que fala da articulação entre os criacionistas e negativistas do aquecimento global na campanha para negar a influência da ação humana no aquecimento global. Mas qual o ponto de intersecção entre os dois: a possibilidade de contradizer questões científicas e diminuir o poder de influência da ciência.
Os criacionistas negam o evolucionismo e tentam propor teorias alternativas como o design inteligente, partindo do princípio que Deus deu o ponta-pé inicial em tudo. Claro que é uma teoria que não funciona, pois usa de métodos religiosos para discutir questões científicas. Já os negativistas do aquecimento global – uns motivados por questões econômicas, outros por medo da verdade – apoiam-se nos “erros” dos números do IPCC. São questões alheias à ciência influenciando questões científicas.
Digo tudo isso influênciado pelo livro “A Formação do Espírito Científico”, de Bachelar (Ed. Contraponto), em que o autor faz análise daquilo que viria a se tornar científico. Aliás, aquilo que viria, com muito esforço, se tornar a ciência.
O autor destaca todos os obstáculos que o pensamento epistemiológicos que o pensamento humano pôs contra o surgimento do pensamento científico como o entendemos hoje. Havia um filosofia (não a filosofia como a conhecemos hoje ou como conhecíamos no péríodo clássico, mas uma filosofia que significa apenas o ato de pensar) compometida em manter o pensamento dominante e comprometida com o poder vigente. A resolução dos problemas, o questionamento do mundo era resolvido pelas ferramentas autorizadas: os dogmas cristãos e a observação empírica.
Ciência, para Bachelard, é justamente o oposto: dispor de ferramentas próprias, princípios próprios e romper com o pensamento vigente. Praticar ciência é subverter o senso comum.
A ciência, então, não pode ser conciliadora. A ciência deve, sempre, incomodar os que tentam acomodar o pensamento crítico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário