quem são as pessoas que morrem de dislexia?

No post anterior, eu disse que nos tempos em que estudava no SESI não havia conhecido nenhum amigo que tivesse dislexia. Vasculhando a memória, posso afirmar com certeza: não havia nenhum. Os alunos que fracassavam na escola ou que não atingiam o desempenho esperado eram considerados preguiçosos ou pobres. Em outros o desempenho escolar era reflexo da organização familiar ou da religião que seguiam. Em outros, o fraco desempenho escolar era resultado da cor da pele ou aparência. Outros alunos eram considerados somente burros.

A Escola nunca foi para todos. Entre os anos 30 e 70, a exclusão era formal. Os alunos frequentavam até o Grupo Escolar e, aos 10 ou 11 anos, faziam o teste para entrar no Ginásio e 3 ou 4 anos depois, testes para o Científico ou Clássico. Assim, a cada período a escola eliminava aqueles que não se adaptavam às suas regras . Depois dos anos 70, universalizou-se a Escola, mas não o ensino: muitas crianças nas escolas, mas pouquíssimas escolas promovendo o sucesso à leitura. A exclusão, antes formal, tornou-se indireta. Antes a exclusão do indivíduo dava-se através de seus fracassos individuais, pois era o aluno quem não estudava suficientemente e depois a exclusão deu-se através de seus fracassos sociais, já que todo pobre e dependente das escolas públicas não estavam aptos a frequentar a escola de verdade.

Hoje em dia, vivemos a época do constrangimento. Valorização do “ter” deu lugar á valorização do “parecer” e a exibição pública de nossos preconceitos tornou-se inadequada e inventamos o politicamente correto. Empresas, constrangidas – mas não arrependidas – por sugar a exaustão o meio ambiente e o homem inventou a Responsabilidade Social. A Escola, por sua vez, inventou a dislexia.

O grande achado da dislexia na Escola foi atribuir causas não-humanas ao fracasso escolar. O excluído não era mais o fracassado ou pobre, mas o doente, de quem o médico, não o professor, deveria cuidar. Para afastar de vez qualquer constrangimento que poderia ser causado por qualquer forma de exclusão, a Escola criou a Inclusão, pero no mucho.

O processo de inclusão escolar dá ao doente a possibilidade de frequentar a escola, mas não de maneira plena. Incluí-se o excluído até um certo ponto, para que ele não incomode aqueles que realmente merecem a Escola. É estranho, no entanto, notar que a maioria das queixas de distúrbios de aprendizagem que chegam à clínicas médicas são de alunos provenientes das escolas públicas, que no Brasil é sinônimo de pobre.

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