nunca houve tantos cubanos

nunca houve tantos cubanos como há hoje. quando eu era criança pequena, lá em santa bárbara nas décadas de 80 e 90, nunca vi nem ouvi falar de um mísero cubano além de fidel castro. na verdade, eu achava que havia dois: ele e o chê, que só mais tarde eu descobriria que ele era argentino. passei todo o período da faculdade sem conhecer um mísero cubano. alguns amigos, companheiros de república, sei que conhecerem alguns cubanos (ou eram guatemaltecos, agora não tenho certeza), mas eu, mesmo, nenhum.
posso afirmar que, por 35 anos, para minha infelicidade, não havia conhecido um mísero... espere! lembro-me: quando estive em Parati, em 2008, fui a um bar de música cubana em que os músicos eram cubanos. apesar de não ter conversado com eles, posso afirmar que tive contato com uns cubanos. mas, serei sincero, nada compara à quantidade de cubanos que eu conheci na semana passada aqui em são paulo.
de repente, acho que todos aqueles que se envergonhavam de ser cubanos, que se achavam oprimidos por serem cubanos, surgiram dos bueiros, das esquinas, dos bares e bradaram, a plenos pulmões: soy de cuba! de repente, não sei de onde, a cidade viu-se orgulhosa da quantidade de cubanos que havia entre nós. posso até ser um pouco mais ousado e dizer: nunca antes, na história desse país, houve tanto cubanos em são paulo quanto na semana passada.
e, nessa semana, lá estavam todos os cubanos de são paulo ou, se bobear, todos os cubanos do brasil, protestando contra a yoani sanchez, uma cubana. eu sou um admirador da blogueira, considero seu posicionamento, no geral, justo. há algumas questões que eu a considero equivocada mas, sejamos sinceros, o equívoco faz parte da essência humana. Não concordo quando ela diz que o embargo econômico forçado pelos eua não exerce forte influência na atual situação cubana, assim como não concordo quando ela diz que a Venezuela percorre o mesmo caminho de cuba. mas, como eu já disse, acho justo que se reclame da falta de liberdade, da violência e da falta de perspectivas econômicas típicas de uma ditadura. entretanto, parece que os cubanos não concordam com ela e lá estavam, todos eles, defendendo sua revolução diante da blogueira.
não posso, no entanto, esconder minha decepção. quando eu achava que eu poderia finalmente ver um cubano, abraçar um cubano, eram todos, na verdade brasileiros. sim, brasileiros como eu! aliás, eles têm de cubano o mesmo que eu de, por exemplo, de neozelandês. aliás, se os que vi no conjunto nacional se consideram cubanos, eu posso me considerar como torcedor do all blacks desde criança. eram os brasileiros que defendiam a revolução cubana, que chamavam a blogueira de agente da cia, que se diziam amigos de fidel, que se mostravam maravilhados com os avanços sociais e econômicos de cuba. aliás, duvido que sejam capazes de apontar cuba em uma mapa.
o que me incomodava nos cubanos-brasileiros, além da pouca idade, da pouca reflexão histórica, era fato de pronunciarem frases que, talvez, fizessem sentido nos anos 60. hoje, no entanto, “viva a revolução”“!non passarán!”“viva fidel”“viva chê” não possuem a mesma significação que tinham. transportar essas frases dos anos 60 para o século xxi, forçar que tenham o mesmo significado é achar que as palavras são impermeáveis à história, que elas não se resignificam à medida em que a história avança (nem sempre para frente).
os meu amigos cubanos, digo, brasileiros, não entenderam que repetir signos alheiso ao momento histórico talvez seja a maior demonstração alienação. mais alienante do que achar que cuba é uma ilha.

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