gêneros do discurso e responsabilidade nas manifestações

Depois de quase, acredito eu, três semanas de andarilhagens, é necessário uma pausa. Devemos sentar à sombra de uma mangueira, refletir sobre o que fizemos, os caminhos que percorremos e planejar os que ainda precisam ser pecorridos. É necessário que refresquemos do calor das manifestafestações, que tomemos uma cerveja e que pensemos: o que aconteceu? e agora? e depois?
Em primeiro lugar, não acredito no "Saímos do Facebook". Não vejo a rede social como um universo paralelo, alheio ao que realmente somos. A rede social não é necessariamente um altar nacísico, pois ainda necessitamos do outro para dar acabamento ao que somos ou até ao que conseguimos representar. A expectativa por um "curtir" de uma foto ou comentário postado, a espera por uma mensagem inesperada fazem das relações do facebook dialógicas tal qual fora dele.
De forma que não considero que as manifestações dentro da rede social inválidas, menos importantes, menos conscientes das que as manifestações das ruas. Evidente, claro, as manifestações nas ruas chamaram mais atenção, formam mais fortes. Entretanto, não há como negar que elas foram moldadas - dialogicamente - dentro da rede social. Se não houvesse as discussões virtuais, as trocas de informações, os chamamentos, as manifestações naõ teriam sido tão efetivas e não teriam sido organizadas de maneira tão rápida. Não acredito, assim, em um gênero discursivo específico para protestos. Manifestar-se via computador é válido, manifestar distribuindo panfletos é válido, protestar mostrando os seios também válido, assim como andarilhar e tomar as ruas é válido. Pessoalmente, só não considero válidas aquelas manifestações que pregam a manutenção de valores arcaicos, as que silenciam as minorias ou aquelas que não sabem contra o que protestam.
Outro aspecto que me chamou atenção foi o uso de máscaras. Em um Estado de excessão, uma máscara é o princípio de tudo. A força de um Estado sitiado contra um indivíduo é desproporcional e o mínimo que se pode fazer é preservar rosto para evitar que se sofra retaliações covardes. (lembro-me do jogador chileno Carlos Caszely que recusou a cumprimentar o ditador Pinochet e, por isso, sua mãe foi sequestrada e torturada). Entretanto, em um Estado democrático, de direito, qual a função das máscaras? Esconder-se de quê? Da responsabilidade que todo indivíduo tem sobre as manifestações? Acho que não. Somos responsáveis por tudo o quê aconteceu nas manifestações e o quê acontece depois delas. Aquele que diz que não preferiu não participar, que preferiu não sujar as mãos (como a Marina Silva e a Soninha), na verdade, acreditaram em um conto do vigário. Um curtir, um cartaz e um silêncio estão carregados de responsabilidades e quem fica em cima do muro está pelo dono do muro. Só um comentário: aqueles que participaram da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que "autorizou" o primeiro golpe militar, devem sempre estar cientes de suas responsabilidades. Aqueles que apoiaram a destituiçaõ da presidenta Dilma, estão cientes da sua responsabilidade?
No final, as manifestações evidenciaram as questões da ética bakhtiniana. É um impossível não atuar, é impossível não gerir sobre os significados que estão postados diante de nós. A história não se encerra

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