a não neutralidade em sala de aula

No dia 02 de novembro, não sei se muitos prestaram atenção, mas o G1 postou uma notícia interessante: "Universitário se recusa a fazer trabalho sobre Marx e escreve carta" [http://goo.gl/CDTHt9]. Nélson Rodrigues sempre dizia que, se pudesse planejar suas últimas palavras, diria: "que boa besta era o tal de Karl Marx". Particularmente, discordo de sua opinião (talvez a única que eu discorde. se bem que a intenção do Nélson era outra. enfim, discutirei depois), acho a teoria marxista viva, muito discutida e pouco estudada. A ideia não é, entretanto, falar sobre Marx.

Segundo o jovem, a intenção da carta era: "Queria uma universidade com o mesmo espaço para todas as ideias e ideologias, sem proselitismo, sem doutrinação". Acima de tudo, a questão que fica é como deve ser a relação entre educador e educando em relação ao objeto cognoscível? Em outras palavras, o que se deve ensinar na escola?
Talvez a resposta para essa pergunta seja outra pergunta: "o que não se deve ensinar na escola?" E a resposta é, sem duvidas, a neutralidade. Não se devemos, jamais, ensinar a neutralidade na escola. Aliás, se não há neutralidade na vida, nas matérias de jornais, não deve haver neutralidade na escola e muito menos no objeto cognoscível a ser ensinado.

A escola, assim como qualquer buteco, é um ambiente político. Claro, evidente, não apenas devemos restringir ao aspecto partidário, pois ser político não se resume a escolher partidos. A escola é um lugar político no momento em que escolhe seus alunos, seus professores, nos objetos que serão ensinados. A relação entre os alunos é uma posição política: liberdade vs opressão sexual, machismo vs feminismo e por aí vai. Até a opção pelo lanche vendido nas escolas é uma opção política. Se tudo na escola, tal qual na vida, é político, assim deve ser a escolha dos objetos a serem ensinados na escola: deve ser uma escolha política!

Deve, obrigatoriamente, haver um alinhamento entre o professor e o objeto a ser ensinado. O professor deve identificar-se com o objeto cognoscível e entender sua importância e não ensinar apenas por ensinar. Entretanto, o professor não deve nutrir pelo objeto que ensina uma postura de endeusamento, como se este fosse capaz de entender e desvendar o mundo. Cabe, exige-se do professor um posicionamento crítico, de fé cega e pé atrás, de olho vivo e faro fino em relação ao que se ensina.

Da mesma maneira, deve-se exigir do aluno, o ato de escuta das escolhas e das opções do professor. Aceitar é uma coisa, escutar é outra. Aceitar implicar em abaixar a cabeça, dizer sim sem considerar o mundo em sua volta, já o processo de escuta significa escutar preparando-se para uma resposta, escutar inclinando-se para discutir. Entretanto, é o discutir sem silenciar, sem gritar, sem impor-se. É o discutir dialógico.
Assim, na polêmica levantada pelo estudante, devemos pensar sempre em uma escola plural, em uma escola em que o posicionamento consciente em relação ao objeto ensinado seja aceito. Deve-se, acima de tudo, haver espaço para ambos.

Mas faço, entretanto, uma ressalva: acompanhado do posicionamento consciente em relação ao objeto a ser ensino deve estar o conhecimento técnico. Antes de se ensinar o objeto, deve-se conhecê-lo, da mesma maneira que antes de se criticar e recusar o objeto ensinado, deve-se conhecê-lo. A crítica que faço ao estudante é que ele critica o marxismo sem conhecê-lo, misturando conceitos e adicionando preconceitos

Nenhum comentário:

Postar um comentário