os gêneros textuais no vestibular da unicamp

Quando participei do 13o Congresso de Língua Portuguesa na PUC-SP, discutimos o que nós professores entendíamos por gêneros do discurso. A percepção, no final, é que para muitos de nós o trabalho com os gêneros resume-se a uma desculpa para o ensino da gramática normativa.
Percebemos que alguns professores fazem do trabalho de produção de texto um momento para corrigir a ortografia do aluno ou fazer alguma observação sobre sua escolha lexical. Há também alguma correção sobre a organização sintática de um determinado enunciado e sobre a estrutura coesiva do texto. Só.

Trabalhar com o gênero do discurso é trabalhar a seu aspecto social. O gênero, não importa qual, é ligado à atividade humana e automaticamente atrela questões como o posicionamento do sujeito que escreve perante o sujeito que lê, o posicionamento deles perante a sociedade, o que pode e o que não pode ser dito e as questões éticas e estéticas compartilhadas pela sociedade. De forma que um texto é muito mais de sua materialidade mas, paradoxalmente, deve incluir essas questões nela

A Comvest reformulou recente o vestibular da Unicamp. A mudança que mais chama a atenção é a inovadora maneira como os gêneros do discurso estão sendo trabalhados. O aluno agora deverá fazer 3 redações – obrigatoriamente - diferentes na mesma prova. E não será fazer uma dissertação, uma narração e uma carta.

No dia 16/05, a Comvest promoveu um simulado para divulgar e, na minha opinião, testar o novo vestibular e os textos que ela pediu foram: a organização de uma entrevista, uma carta para um autor de crônica e um editorial de jornal. O vestibular exige que o aluno, além do conhecimento das estruturas textuais, um imaginário sobre o papel dos indivíduos numa sociedade.

No primeiro texto, por exemplo, mais do que conhecer a estrutura de perguntas e respostas de uma entrevista, o aluno deveria saber posicionar-se como a coordenadora do projeto de pesquisa sobre o qual o texto de apoio falava. No segundo texto, o aluno deveria fazer o papel de um adulto que escreve uma carta sobre sua infância para um autor de uma crônica. Mais uma vez, o vestibulando deveria conhecer o que é um adulto relembrando sobre sua infância e como que uma crônica mobiliza um leitor a ponto de fazê-lo escrever uma carta. No terceiro texto, o conhecimento sobre o que é um jornal era essencial, sem ser infantil ao ponto de considerar que todo jornal é imparcial.

O vestibular da Unicamp mostra para nós professores alternativas de como se trabalhar os gêneros textuais em sala de aula. Além de nos orientar, o vestibular suscitará uma questão: como fazer para que o trabalho com os gêneros não seja escolarizante. Esse, porém, é uma questão para um outro post.

Nenhum comentário:

Postar um comentário